Tem uma pergunta que deveria ecoar no coração de toda mãe, pai, tia, avó, cuidador:
“Estou criando uma criança... ou estou preparando um futuro adulto?”
Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
A verdade é que muitos de nós, na ânsia de proteger, de amar, de fazer o nosso melhor, acabamos sufocando.
Sem perceber, tiramos da vida dos nossos filhos aquilo que ela tem de mais valioso: o direito de aprender com os próprios erros.
Julie Lythcott-Haims, autora do livro Como Criar um Adulto, foi reitora de calouros em uma das universidades mais prestigiadas do mundo, Stanford. E ali, entre jovens brilhantes, ela viu algo muito preocupante: muitos deles não sabiam viver.
Não sabiam resolver um problema simples. Não sabiam tomar uma decisão sem mandar mensagem pros pais. Não sabiam lidar com a frustração, com um “não”, com o próprio silêncio.
E sabe por quê? Porque cresceram em um ambiente onde tudo foi resolvido por eles, os pais. Onde o medo dos pais falou mais alto que a confiança. Onde o amor veio disfarçado de controle.
Talvez você já tenha escutado isso:
“Meu filho não precisa se preocupar com nada, eu cuido de tudo!”
Ou:
“Ela só precisa estudar, o resto eu resolvo.”
A superproteção que paralisa
Quando cuidamos demais, tiramos deles a chance de desenvolver algo fundamental: autonomia, independência, aprendizado e desenvolvimento.
A autonomia não nasce do dia pra noite. Ela é construída — um passo por vez, um tropeço por vez, uma tentativa com medo por vez.
Quando resolvemos tudo, quando evitamos que nossos filhos sintam tristeza, frustração, raiva ou cansaço, estamos dizendo o seguinte:
“Você não dá conta. Você precisa de mim pra tudo. Você é incapaz!”
E o pior é que eles acreditam. Se tornam adultos inseguros, ansiosos, com medo de errar, com medo de serem julgados, sem saber o que querem da vida, porque sempre alguém decidiu por eles.
E aí a conta chega. Chega no consultório, nas crises de ansiedade, no burnout aos 20 e poucos anos, na dificuldade de se posicionar. Porque ninguém ensinou que errar faz parte, que bancar suas escolhas é dolorido, que viver dá trabalho — mas é isso que faz crescer.
Criar com amor não é fazer tudo por eles
Criar com amor é olhar no olho e dizer:
“Eu confio em você. Vai doer um pouco, mas eu tô aqui. Você consegue.”
É ensinar a arrumar a própria mochila, a lidar com o colega difícil, a pedir desculpas sem vergonha. É deixar esquecer o casaco um dia e sentir frio — pra lembrar no outro. É ensinar a fazer um arroz, resolver um problema no banco, pedir ajuda quando estiver com medo.
Criar um adulto é permitir que a criança aprenda a se frustrar. É resistir à tentação de "salvar" o tempo todo. De não querer ver ele sofrer. É ensinar com firmeza e afeto, com limites claros e presença amorosa.
A superproteção é, muitas vezes, o nosso medo disfarçado. Medo que o mundo machuque.
Medo que eles sofram como nós sofremos. Medo que errem onde a gente errou.
Mas é preciso coragem pra confiar. Coragem pra soltar um pouco, pra apoiar sem carregar, pra amar sem sufocar.
Talvez você esteja lendo esse texto com um filho adolescente em casa. Ou até adulto. E aí vem o pensamento:
“Mas agora já era... eu estraguei tudo.”
Respira.
Nunca é tarde pra mudar a forma como você se relaciona. Você pode, sim, começar a construir mais autonomia no seu filho hoje. Com conversa, com confiança, com um passo de cada vez.
Pare de resolver tudo para seu filho, agora!
Comece perguntando: “Como você acha que pode lidar com isso?”. Diga: “Tenta resolver. Se precisar, me chama, mas tenta primeiro”. Celebre quando ele ou ela resolver algo sozinho. Mesmo que tenha demorado. Mesmo que tenha feito de um jeito diferente do seu.
Lembre-se: o adulto que você está criando não precisa ser perfeito. Ele só precisa ser capaz de viver com responsabilidade, consciência e coragem.
Criar um adulto é um ato de amor
A autora diz que criar um adulto é preparar um ser humano pra andar com as próprias pernas. E pra isso, ele precisa cair. Precisa suar. Precisa escolher e se frustrar.
Precisa saber que a vida é feita de altos e baixos, e que ele é capaz de atravessar cada fase, não por ser mimado, mas por ser forte.
E sabe onde se constrói essa força? No olhar de um pai ou de uma mãe que acredita.
Você não precisa ser perfeito. Mas precisa estar disposto a soltar aos poucos. A confiar mais. A deixar que a vida ensine o que a gente não pode ensinar com palavras.
Porque no fim das contas, criar um adulto é um ato de coragem. É um amor que prepara pra vida, e não que protege da vida.
Se esse texto te fez pensar em como você tem criado seus filhos (ou como foi criado), compartilha com alguém que também precisa refletir sobre isso.
Vamos criar adultos preparados, conscientes e emocionalmente fortes.
Referência: Como criar um adulto, autora: Julie Luthcott-Haims
Silvana Souza de Sá é Psicóloga Clínica|Sexóloga CRP 06/90506
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